ACORDES AO SOM DA VIDA
- Ulisses Duarte
- 7 de set.
- 2 min de leitura

Não temos pressa, ouvir os primeiros acordes daquela música que nos toca só compreende nossa busca pela beleza no momento em que o tempo passa, num compasso alternado entre vazios e sons.
Os ciclos da existência são ritmados, eles nunca se repetem, só são eternos enquanto duram, como celebrou o poeta Moraes.
Estridência, canção fora do ritmo, minha voz que desafina na música de tom menor. A maturidade da voz que se cala só se completa quando chegarmos ao fim do fim, no infinito silêncio.
Ardência, pensar em como ontem eu acordei com uma fina capa de tristeza. Como naquela obra de Radiohead que diz que todos se vão, se tiverem a chance de uma história rasgar. O instante acaba e todos os sentidos notados são anulados, anote o que na vida não se faz.
Esvai, escorreguei no vazio da palavra afiada, antes dela pular em cima de mim e dizer: meu bem, o duplo de você já foi eu. Quem era o eu do eu?
Tendência, isso é te querer mais e mais, um ideal de se ter visto sem notar que tudo se foi, e nada mais vai voltar. Talvez nem se tenha existido, já que habitamos o mundo do ausente. No bê a bá da vida, faça-me te ouvir quando te ver não é possível mais.
Impossível, não sentir o quanto o fio de Ariadne arde, a solução do problema só é celebrada na arte do efêmero, em meio à madrugada silenciosa. A bruma da manhã anunciará quando os primeiros raios de sol começarem a queimar.
A pele, quando macia eleva a dor da existência, e em toda a nossa potência que falha eu diria que existir também é devanear. Entre nós nada será segredo, se ao menos aquela música do começo voltar a tocar. Será aquela velha melodia dos deliciosos acordes a nos acordar?
Ela se aproxima firme, forte, magnífica. O meu maior defeito é não saber a ela, deste mesmo jeito, esperar.
Ulisses Correa Duarte
Rio de Janeiro, 6 de setembro de 2025
Imagem: FreePik
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